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A SIDA MATA? a salvacao está no teu coração

Dom Francisco de Mata Mourisca

Uije 2001

I. O que é a SIDA?

II. Gravidade da SIDA

III. Transmissão da SIDA

IV. Como se não transmite

V. Atitude com os doentes

VI. Prevenção da SIDA

VII. A coragem da verdade

VIII. Como se conhece a SIDA?

IX. A SIDA na pastoral conjugal

X. A SIDA na pastoral juvenil

XI. A lição dum Provérbio

XII. Conclusão

 

 

 

 

l. O que é a SIDA?

1. Comecemos por explicar o sentido da palavra, a qual traduz bem, de forma sintética, as principais característica desta doença. SIDA é um termo constituído com as iniciais dos seguintes vocábulos:

Síndroma da Imuno-Deficiência Adquirida.

(Também se designa AIDS, do inglês Acquired Immuno-Deficiency Syndrome. E é com a sigla AIDS que aparecem certos produtos sobre esta doença).

2. Síndroma significa um conjunto de sintomas ou sinais a que a doença dá origem e que podem denunciar a sua existência.

Imuno-Deficiência quer dizer que o corpo humano perde a sua imunidade defensiva, privado como fica da defesa das células imunitárias, chamadas linfócitos, encarregadas de o defender contra os microorganismos patológicos que o podem invadir.

Adquirida é um adjectivo que aqui se opõe a hereditário, pois esta doença, embora se possa contrair em contacto do bebé com a placenta da mãe ou até mesmo no aleitamento, não se transmite propriamente por hereditariedade.

O agente da SIDA é o Vírus da Imunodefíciên-cia Humana, VIH, (em inglês, HIV, human immunodeficiency vírus), o qual invade e destrói as células imunitárias que constituem a principal defesa do organismo contra os micróbios e outros agentes de doença.

3. Esta deficiência imunitária, portanto, deixa o nosso corpo inerme ante as infecções que o atacam e, frequentemente, o conduzem á morte. É o caso específico da tuberculose que, em grande percentagem, acompanha os pacientes da sida.

Tais pacientes facilmente contraem esta e outras infecções graves, que podem ser mortais devido á incapacidade de defesa no organismo.

 

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II. Gravidade da SIDA

4. A doença da SIDA está a constituir uma preocupação prioritária para os responsáveis da saúde em todo o mundo, mas de modo especial nos Países da África Subsaariana, onde se encontram 70% dos pacientes, o que significa vinte e cinco milhões dos trinta e seis milhões de doentes mundialmente registados. Há países com 1/3 do povo infectado.

Sabendo, porém, que muitos doentes não estão registados, a totalidade deles é muito maior, mormente na África referida.

Esta percentagem desproporcional merece um estudo profundo dos especialistas. Creio que se não pode atribuir só à pobreza esse aumento tão desproporcionado da SIDA na África subsaariana, porquanto a África do Sul, que nos últimos anos registou o maior aumento de tal doença, não é o país mais pobre da África nem, muito menos, do mundo. Pelo contrário, em termos de nível de vida, é o mais rico do Continente. No Malawi, os ricos foram mais afectados.

A verdade é que esta doença se está a difundir num ritmo alarmante, dum modo particular no Continente Africano, a qual condena â morte os seus pacientes, pois a ciência, com todos os seus actuais recursos, ainda não conseguiu descobrir vacinas para a precaver nem remédios para a curar. Há medicamentos que podem retardar os seus efeitos, mas não suprimi-los, ao menos por enquanto.

5. Nem a sociedade nem a família estão preparadas para compreender e acolher os doentes da SIDA . Num passado ainda recente, os leprosos eram isolados da sociedade e da família, com receio do contágio. E mesmo hoje, há crianças, mulheres e velhos rejeitados pela família, porque um mentiroso e infame adivinho os acusou de feiticeiros. Atavismo cultural, que a cultura ainda não purificou.

De forma análoga são hoje os doentes da SIDA rejeitados não só pela sociedade mas até pela família, ora porque se atribui, sem reservas, a sua causa a desordens sexuais ora porque, por ignorância, se considera esta doença contagiosa através da simples convivência.

6. Grave particularidade desta doença é que ela produz os seus efeitos na idade mais produtiva e reprodutiva da vida, que vai dos 18-ao 50 anos. O resultado salta à vista. A morte desses doentes deixa o país sem a principal força de trabalho, com prejuízos desastrosos para a economia geral.

A nível familiar, não são menos deploráveis as consequências, já que o falecimento de tais doentes em idade reprodutiva costuma deixar crianças órfãs, por vezes também atingidas pela doença, sem terem quem olhe por elas.

 

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III. Transmissão da SIDA

7. Esta doença adquire-se principalmente mediante contactos com sangue e com secreções genitais

Por conseguinte, transfusões de sangue infectado bem como seringas infectadas num paciente e aplicadas a uma pessoa sã, sem antes serem devidamente esterilizadas, tornam-se caminho fácil para contrair a SIDA.

Os tóxicodependentes, com a utilização da mesma seringa para se injectarem, contraem esta doença com muita facilidade, se no meio deles houver ao menos um portador da doença.

Também podem ser meio de contágio as lâminas de barbear, quando fizeram sangrar um paciente e depois são utilizadas numa pessoa sã fazendo-a sangrar também.

Igual perigo existe, quando a mesma escova de dentes é utilizada por várias pessoas, se ao menos uma delas estiver infectada.

A mãe portadora desta doença também a pode transmitir ao seu feto através da placenta.

8. Mas a maioria dos casos têm origem em relações sexuais. Tanto o homem como a mulher, se tiver a doença, a comunica por via sexual a quem a não tiver.

E então, constitui especial ocasião para contrair esta doença a prática da prostituição (com especial difusão em tempo de guerra), o chamado amor livre, a homossexualidade e toda a sorte de hedonismo sexual que o laxismo permissivo da nossa sociedade vai difundindo, com especial incidência no comportamento da juventude.

Assim se explica que mais de 70% dos casos de sida conhecidos tenham a sua origem em relações sexuais.

Vem agravar a facilidade da transmissão desta doença o facto de que, ao ser adquirida a infecção do VIH, não há sinais ou sintomas típicos que permitam detectá-la. E o portador dela, não sabendo que está infectado, também não toma as devidas cautelas para evitar a sua transmissão.

Este é o chamado período de "janela", que só termina quando aparecem os anticorpos contra o vírus, os quais então permitem fazer o diagnóstico e a identificação da doença.

 

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IV. Como se não transmite

9. Antes de mais, importa salientar que a simples convivência com um paciente da SIDA não constitui risco algum de contágio. É, portanto, errado afastar da família o doente pelo receio de outros familiares virem a contrair a doença; como acontece nos casos de sarampo, hepatite, tuberculose e outros.

O próprio aperto de mão, o abraço, o simples beijo também não constituem qualquer risco. Exceptua-se o caso dum beijo trocado com tal veemência amorosa que viesse a provocar algum mútuo corrimento de sangue. Então esse contacto sanguíneo seria o veiculo da doença.

Como antes foi referido, a sida é uma enfermidade que se adquire, isto é, que não se recebe por hereditariedade. A sua eventual transmissão pela mãe ao bebé através do contacto com a placenta não significa hereditariedade propriamente dita.

Toma-se importante ressaltar este aspecto dos modos pêlos quais se não transmite a sida, a fím de sossegar as famílias e mentalizá-las para que não rejeitem algum eventual familiar seu afectado por esta doença, mas antes sejam capazes de o acolher com amor e compreensão.

 

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V. Atitude com os doentes

10. É sabido o complexo do paciente da SIDA, o qual não gosta de que a sua doença seja conhecida. Os motivos são justamente aqueles que levam a sociedade e mesmo a família a rejeitar tais doentes. E quem é que tem gosto em ver-se rejeitado, sobretudo petos seus?

Os motivos, como já foi explicado, consistem na presunção de desordens sexuais e no infundado receio de possível contágio.

Daqui, o exagerado segredo, quase convertido em tabu, acerca desta doença, o que origina o desconhecimento do seu alcance e de outros factores importantes, tais como eventuais condições para o casamento.

Sem prejuízo do segredo profissional próprio do pessoal clínico, deveria haver mais acesso ao conhecimento desta doença, não só para melhor organizar o atendimento dos seus pacientes senão também para salvaguardar o bem de terceiras pessoas, mormente no que respeita ao casamento.

11. A família, como também a sociedade, deve ser mentalizada sobre a verdadeira natureza desta doença, para ser capaz de acolher e tratar os seus eventuais pacientes, sem preconceitos de espécie alguma, mas com amor, carinho e dedicação, da mesma forma que devem ser tratados quaisquer outros doentes.

Hoje é ele; amanhã poderás ser tu. Quem se atreverá a dizer: desta água não beberei eu?

Quando se apresenta o caso dum paciente deste género, é temerário presumir logo como causa a via sexual, pois já vimos que a doença se pode contrair também por outras vias.

E mesmo quando fosse por via sexual, nem sempre aí se devem presumir desordens, porquanto o recto uso da vida conjugal é legítimo, e também nele pode acontecer algum caso, embora com rara probabilidade.

Seja como for, a causa da doença nunca deve ser tida em conta para condicionar o tratamento dum paciente da SIDA. Trata-se dum ser humano, e isto é quanto basta para ele ter direito a ser tratado humanamente. Nesta dimensão é que o doente há-de ser visto, acolhido e compreendido.

Por sua vez, o receio de contágio é fruto de pura ignorância, a qual precisa de ser debelada com um adequado esclarecimento.

12. Continuação do paciente são os seus filhos, se os tiver, que vão ficar órfãos, talvez de mãe. E se esta não tinha marido, como tantas vezes acontece, esses órfãos ficam na total dependência da caridade. Dos familiares? De outras pessoas ou instituições?

O facto é tanto mais grave quanto mais escasso vai ficando nas famílias a força do trabalho e dos rendimentos, justamente devido ao falecimento dos seus membros na idade mais produtiva da vida, por causa desta terrível doença.

 

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VI. Prevenção da SIDA

13. Um notável privilégio desta fatídica doença é o conhecimento dos modos como se transmite e a possibilidade de a evitar, coisa que não acontece com muitas outras enfermidades. A par da sua grande gravidade, a SIDA tem este grande privilégio, que devemos aproveitar para a não contrair.

14. A transmissão por via sanguínea pode-se evitar mediante cautelas rotineiras que devem fazer parte da educação familiar.

Nunca utilizes uma seringa usada sem antes a esterilizares devidamente. Por vezes, a falta de seringas novas ou de meios e acaso de vontade para esterilizar as velhas pode ser origem de uma ou mais vidas perdidas. Não esqueçam isto os agentes sanitários e, de modo particular, os toxicodependentes.

Da mesma forma, ninguém se deve barbear com uma lâmina nem mesmo com uma máquina usada já por outrem.

Pelas mesmas razões, ninguém lave os dentes com uma escova que outra pessoa utilizou. São precauções simples, cujo descuido pode ser fatal.

A mesma prudência deve existir na troca de beijos amorosos, cuja veemência pode ser fatal, pelo que o autodomínio tem aí plena aplicação.

15. A via genital, que é a mais responsável pela transmissão desta doença, merece uma ponderação muito mais complexa.

O Estado, em uníssono com Organismos internacionais, vem divulgando entre toda a gente a utilização do preservativo vulgarmente chamado camisinha. Nas ruas da cidade vêem-se cartazes a exibir a figura da camisinha com estas palavras a recomendá-la: a salvação está na tua mão.

E mais nada? Não tenho visto uma palavra sequer a recomendar responsabilidade, autodomínio, abstinência, como se isto fosse aventura exclusiva de monges e monjas.

Esta prática lembra-me os milhões de dólares oferecidos pela Comunidade Internacional à África, e também a Angola, para o planeamento familiar, visando a limitação da natalidade. Mas com que meios? Com produtos preservativos e contraceptivos.

Sabido é que existem métodos naturais para exercer a paternidade e a maternidade responsáveis com uma eficácia cientificamente comprovada. Só requerem, para isso, a preparação de monitores que ensinem as mulheres a utilizar correctamente tais métodos naturais.

Surge a pergunta: por que motivo se insiste, de forma exclusiva, na utilização dos contraceptivos, ignorando completamente os meios naturais? Utilizando os métodos naturais, esse dinheiro serviria para pagar aos monitores ou monitoras e havia de ficar dentro do Pais. Mas utilizando os métodos artificiais, esse dinheiro serve para pagar os preservativos e volta para donde veio.

Não se verificará outro tanto sobre os meios de prevenir a sida? Fazer campanha exclusiva do preservativo sem recorrer à educação para a responsabilidade e o autodomínio, não estará isso na mesma linha do processo anterior? E, o que mais nos interessa, será esse o método mais eficaz para prevenir o flagelo desta doença?

 

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VII. A coragem da verdade

16. Não é preciso recorrer a profundidades psicológicas nem psicanalíticas, para compreender o efeito produzido nos adolescentes e jovens com a divulgação da camisinha e do seu uso entre eles.

Ao receberem dos mais velhos esta recomendação, eles pensam que ficam seguros, não apenas sanitaríamente mas também eticamente, para tudo poderem fazer. E acabam por fazer mesmo, dando liberdade franca ao instinto sexual. Ora quem é que desconhece a violência do sexo naqueles que lhe abrem as comportas do autodomínio?

Tais pessoas, em vez de serem senhoras do seu instinto, acabam por ser escravas dele, seguindo cegamente os seus ditames. E com camisinha ou sem ela, procurarão satisfazer os seus desejos sexuais com as consequências que dai possam advir. Para cúmulo da ironia, na ânsia de mais prazer, chegam a recusar o uso da camisinha, como está comprovado, e não somente pêlos clientes da prostituição.

17. De facto, ao liberalizar a prática do sexo, a recomendação da camisinha acaba por levar certos utentes a rejeitá-la, para lhes não diminuir o prazer. Segundo notícias postas a circular, tal acontece numa América do Norte, onde não tem faltado vasta distribuição desse produto. Mas os jovens deixam de o utilizar. Porquê? Porque já não têm medo da sida? Ou porque, não obstante as ameaças dela, fazem do maior prazer possível o estatuto de viver? Uma nova edição da toxicodependência?

Seja qual for a interpretação, a verdade é que o citado País, não obstante a sua vasta divulgação do preservativo, consta que não conseguiu diminuir a taxa de infecção nos últimos cinco anos.

18. Não menor lição nos vem da Inglaterra. Também aí não tem faltado superabundante propaganda da camisinha. Contudo, é o País europeu onde se regista o maior número, ao menos proporcional, de adolescentes grávidas. Porquê? Porque a camisinha não dá resultado? Ou porque deixam de a usar?

Como conclusão, e lição para todos nós, o Governo do referido País resolveu desencadear uma campanha nacional para promover a virgindade entre os adolescentes, que oxalá a conservem até ao casamento. Tal foi uma das mais inesperadas notícias postas recentemente a circular pela mídia.

 

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VIII. Como se conhece a SIDA?

19. De forma empírica, não é nada fácil conhecer e identificar a doença da sida. Ela não tem manifestações especificas e exclusivas. Pelo contrário, os seus sintomas, sobretudo ao principio, são comuns a outros estados patológicos.

Depois de penetrar na célula, o vírus pode ficar ai em estado latente durante algum tempo, até entrar numa fase activa. Então o portador talvez não experimente quaisquer sintomas, a não ser eventuais perdas de peso, febres, suores, ou diarreias inexplicáveis.

Quando o vírus entra em acção demolidora das células, vem a doença na sua fase definitiva, que se pode manifestar no aumento do volume dos gânglios linfáticos e em infecções graves, tais como tumores malignos na pele (sarcoma de Kaposi), tuberculose e outras infecções não menos perigosas.

20. Porém, só um exame médico, e porventura feito mais que uma vez, mediante a análise do sangue, poderá chegar a uma conclusão segura acerca do assunto.

O corpo humano, para se defender do invasor injusto, produz sempre alguns anticorpos contra o vírus inimigo, embora sem êxito final. A presença destes anticorpos são o sinal por enquanto mais fiável da presença do vírus.

21. Por conseguinte, todos as pessoas que se encontrarem atingidas por alguma das graves infecções referidas, ou que viverem em situações de risco, tais como tóxicodependentes e praticantes da prostituição, devem fazer periódica análise do seu sangue para bem da sua vida, e não só.

 

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IX. A SIDA na pastoral conjugal

22. A linguagem pastoral sobre a sida tem que ser bem diferente na sua aplicação aos casados e aos solteiros.

Aqueles que vivem em estado matrimonial encontram-se numa situação muito particular com respeito à precaução na contracção ou transmissão desta doença, e por isso nos merecem aqui uma reflexão específica.

Importa sobremaneira sublinhar que todo o cônjuge tem a seu favor uma defesa que o protege constantemente contra o perigo de contrair a sida: é a fidelidade conjugal. Esta, fielmente observada, constitui a mais eficaz vacina contra o presente flagelo que ameaça qualquer casal.

A honestidade intelectual manda-nos reconhecer aqui que as te/s divinas devidamente respeitadas protegem não somente o espirito senão também o corpo do homem.

23. Para assegurar esta fidelidade protectora, todo o marido e toda a esposa têm a obrigação de alimentar o próprio amor conjugal, mediante a sua vida intima, sem o que estaria ameaçada a fidelidade em causa. É o mesmo S. Paulo quem o afirma quando lhes diz:

- «/Vão vos recuseis um ao outro, a não ser por consentimento mútuo, a fim de vos entregardes à oração; depois, ajuntai-vos outra vez, para que Satanás vos não tente pe/a vossa incontinência» (1 Cor 7,5).

Estas palavras, de inspiração divina, são merecedoras da mais prudente consideração

24. Porém, os actos próprios da vida conjugal devem ser efectuados de tal maneira que estejam abertos à transmissão da vida.

E aqui é onde surge uma dificuldade. Se um dos cônjuges, culpável ou inculpavelmente, acaso por meio de uma seringa infectada, contraiu a sida, como pode o casal proceder para evitar a transmissão da doença ao cônjuge são? Poderá recorrer ao uso do preservativo? Se recorre, o acto deixa de estar aberto à vida; se não recorre, o acto fica aberto ao contágio do outro cônjuge. Como proceder? Um dilema.

A encíclica Humanae Vitae, exortando os Sacerdotes na orientação pastoral que devem dar aos casais, diz-lhes textualmente, com a maternal compreensão da Igreja: «Ensinai aos esposos o necessário caminho da oração, preparai-os para recorrerem com frequência e com fé aos sacramentos da Eucaristia e da Penitência, sem se deixarem jamais desencorajar pela sua fraqueza» (HV, 29).

Perante esta exortação, somos obrigados a concluir a seguinte alternativa: ou as eventuais fraquezas desses casais não são, peio menos sempre, falta grave ou a absolvição do penitente gravemente recidivo é sempre lícita.

Para não estarem impedidos de frequentar a Eucaristia, é preciso optar pela primeira parte da alternativa, isto é, que as suas eventuais fraquezas não são necessariamente falta grave, sobretudo num caso como este.

25. De facto na situação descrita o casa! tem que optar entre a abertura do acto conjugal à vida dum ser que ainda não existe e o direito à saúde e à vida dum ser que já existe, que é o cônjuge são. Ora, se melior est condido possidentis, ninguém deixará de optar por quem já possui a vida.

Por consequência, é lógico inferir que um casal desses não deve ser inquietado por exercer a sua vida conjugal em condições de um cônjuge não ser contagiado pelo outro com a doença da sida.

 

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X. A SIDA na pastoral juvenil

26. Não é anedota afirmar que o melhor antídoto contra a sida foi inventado há cerca de 3.000 anos, sobre o Monte Sinai, com a promulgação do Decálogo, no qual são proscritas as relações sexuais dum homem com uma mulher estranha. E uma mulher estranha não é somente aquela que está casada com outro homem (Ex 20,14), mas é também aquela que pode não estar casada com ninguém (Mt 5,28).

Daqui se infere que, segundo a Bíblia, o homem só pode ter relações sexuais com uma mulher quando está casado com ela. Isto deduz-se da natureza mesma do acto sexual, através do qual se transmite a vida dum novo ser humano. E este novo ser precisa da comunhão do pai e da mãe numa garantida estabilidade familiar para ser criado e educado em condições dignas duma pessoa humana. Ora essa estabilidade só se encontra no casamento.

27. A tecnologia moderna ensina que a criação produtiva de animais e até de árvores não os deve deixar reproduzir antes de atingirem a sua maioridade natural, sob pena de prejudicar o seu rendimento produtivo.

Ora se a isto chegou a tecnologia da ciência moderna por que razão se hão-de ignorar os mesmos princípios na biologia humana, aprovando e até fomentando a actividade reprodutiva entre adolescentes, mesmo sem terem atingido a sua maturidade biológica, com evidentes prejuízos para a sua saúde e a de seus eventuais filhos?

Será a vida duma pessoa humana menos digna de consideração que a vida dum animal? E chamaremos a isto progresso? Emancipação? Modernidade? Ou perversão intelectual que recusa ver a verdade?

28. A arma verdadeiramente defensiva da juventude contra a sida há-de ser a consciência da responsabilidade para com a sua própria vida, para com a vida dos outros e, sobretudo, para com a vida dos seus eventuais descendentes.

He pacientes da sida que, revoltados contra a sua condição, decidem como que vingar-se noutras pessoas transmitindo-lhes propositadamente a mesma doença. Aqueles ou aquelas que assim procedem são verdadeiros assassinos, no sentido mais estrito do termo.

Porém, também se pode ser suicida ou assassino, mesmo sem esse propósito deliberado. Basta o consentimento. Quando alguém realiza, sobretudo indevida e livremente, um acto sexual de que sabe vir a resultar a contracção da doença em si mesmo, ou no parceiro, ou nos seus descendentes, torna-se responsável de todas essas consequências.

29. Os seus futuros filhos hão-de constituir para um jovem, e não menos para uma jovem, a mola real do seu comportamento juvenil com relação ás atitudes sexuais- Se um rapaz ou uma rapariga contrair a doença, qual será amanhã a sorte dos seus filhos e filhas? Será feliz por os deixar um dia órfãos? Será feliz por os deixar, acaso, também eles doentes, também condenados à morte?

São perguntas às quais todo jovem deve responder com um comportamento digno dum coração nobre. E a verdade é que todas essas desgraças podem acontecer, se ele ou ela não levar uma vida casta, vida responsável dum futuro pai e duma futura mãe.

Todos os pais, todos os educadores e todos os políticos, juntamente com a Igreja, devem ajudar os nossos jovens a verem o comportamento sexual por este prisma, e não pela óptica dum hedonismo aviltante e assassino.

30. Não é simplesmente pena, é uma irreparável tragédia deixar cair na lama o valor precioso da virgindade pré-conjugal.

Não se trata dum valor meramente cristão. Longe disso, ele tem sido rodeado das maiores honras mesmo em culturas pagãs. Basta recordar o prestígio que tinham em Roma as virgens chamadas vestais, encarregadas de guardar aceso o fogo da deusa vesta. Nos banquetes, estava-lhes reservado lugar junto ao Imperador; e se intercedessem a favor dum condenado à morte, este era salvo.

31. No Antigo Testamento, o valor da virgindade estava esbatido pela veemente expectativa de uma mulher vir a ser mãe do Messias. A verdade, porém, é que este dom era inviolavelmente respeitado, como se pode ver na atitude de S. José para com a Virgem Maria quando teve conhecimento do seu estado (Mt 1,18-1).

Mas é o Novo Testamento que vem conferir um valor novo á virgindade, não simplesmente até ao casamento mas especialmente até à morte, por amor do Reino dos Céus. O Apocalipse chega a reservar-lhe no Paraíso prerrogativas que a mais ninguém são concedidas (Ap 14,1-5).

32. Em si mesmo, o valor da virgindade pré-matrimonial, hoje, não diminuiu; o que diminuiu foi o apreço por ele, da parte da mentalidade moderna. Um deplorável regresso, em termos de civilização.

Porém, se hoje diminuiu o apreço pela virgindade pré-matrimonial, temos de confessar que o seu real valor aumentou. E aumentou justamente enquanto defesa da saúde e da felicidade da família: pai, mãe, filhos e demais descendentes.

Perante o estendal de misérias e de lágrimas que o culto do sexo vem causando na nossa sociedade, somos obrigados a reconhecer honestamente que, hoje, guardar virgindade até ao casamento constitui um dos mais seguros penhores duma família saudável e feliz. E quem diz família tem que dizer também sociedade.

33. Deixo aqui um desafio aos jovens. Imitando o que já vêm fazendo colegas seus doutros países, tenham a coragem de desencadear uma campanha cerrada em defesa da sua virgindade pré-conjugal. Se assim fizerem, tenham a certeza de que hão-de construir uma era nova de saúde e felicidade para si mesmos e para suas famílias.

 

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XI. A lição dum Provérbio

34. Ensina um provérbio popular que «Deus perdoa sempre, o homem perdoa às vezes, e a natureza não perdoa nunca».

Deus perdoa sempre, desde que o homem se arrependa, reparando o mal que fez e mudando de vida. Desta forma se manifestam os dois grandes atributos de Deus: sua misericórdia e sua justiça.

O homem perdoa às vezes, porque outras vezes não tem coragem para isso. O perdão das ofensas é uma das mais nobres acções com que o homem se pode tornar semelhante a Deus, pela imitação da sua misericórdia.

A natureza não perdoa nunca. A prová-lo, temos aí a degradação progressiva da mesma natureza com o desequilíbrio nela causado pela utilização irracional dos seus recursos.

A ecologia tem especial aplicação ao corpo humano. Por isso, desrespeitar as leis naturais que lhe são próprias, mormente abusando do sexo que é o princípio da vida, significa incorrer na sentença da natureza que não perdoa.

35. Não temos o direito de chamar â sida um castigo de Deus. Mas devemos considerá-la, isso sim, como um aviso providencial do Criador sobre o comportamento que devemos ter para com o nosso corpo. Este aviso de Deus vem dizer-nos, principalmente, que o homem não deve procurar no culto do sexo a sua razão de existir.

Precisam sobremaneira deste aviso os consumidores de certos programas televisivos, e ainda mais os seus produtores, entre os quais e as prostitutas não parece haver diferença alguma, na medida em que ambos procuram dinheiro através do sexo.

Se o homem contemporâneo tiver em consideração este aviso divino para melhorar a sua maneira de viver, dando outra orientação moral ao seu comportamento, é natural que esta doença deixe de existir, por falta de vector. Mas então, valeu a pena.

 

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XII. Conclusão

36. Ao finalizar estas considerações, ouso deixar aqui dois apelos, tão atrevidos quão grave e urgente é a necessidade de evitar este flagelo, pois para grandes males, grandes remédios:

1° Que todos os nossos jovens se alistem numa cruzada de valentes, capazes de se comprometerem a guardar castidade até ao casamento;

2° Que ninguém ouse constituir família sem antes ter feito o teste do H l V, informando o seu pretendente ou a sua pretendida no caso de o resultado ser positivo.

Doutra forma, poderá a validade do casamento ser posta em causa e ter lugar a imputação de homicídio voluntário.

37. João Paulo II disse aos jovens em Paris:

Jovens, vós valeis tanto quanto valer o vosso coração. A palavra coração aqui é sinónimo de vontade. Escuta, portanto, caríssimo jovem, caríssimo leitor:

- força de vontade e autodomínio, eis o segredo do teu valor e da tua vitória sobre a sida. Ela mata?

 

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ultima revisão deste pagina 21 de Março 2002