Encerramento do programa para o seminario sobre aconselhamento pré e pós teste de HIV, para técnicos de saúde nos centros de tuberculose em Benguela.
Aos 55 anos o Cardeal de Paris Pierre Veuillot, jazia no leito
de morte com um cancro maligno. Os médicos atestam e o quadro clínico
confirma que ele morrerá em breve. Chama o seu secretário e di-lo: "Nós
sabemos fazer belos discursos sobre o sofrimento. Também eu fi-los
calorosamente. Diz aos sacerdotes para que não os façam mais, ignoramos o
que esse significa. Eu choro amargamente."
Sim Cristo não veio explicar o mistério do sofrimento, mas veio
sofrer connosco, não veio explicar o mistério da morte, mas veio morrer numa
cruz. Assim, a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo mostram
portanto que a liberdade e a dignidade da pessoa humana, que se empenha com
amor para o próximo e edifica assim o Reino de Deus, são mais fortes que
todo o poder do mal e da injustiça. Creio que é isto que o Projecto
Diocesano Anti-TBC, ADPP, IESA, CRS estão aqui a fazer com a nossa presença.
Com Cristo ontem os Israelitas entenderam e interpretaram a
lepra, na idade média a peste negra, nos séculos passados o cancro e hoje
nós devemos interpretar através da sua cruz o HIV-SIDA, pois
Ele continua a ser o Servo sofredor de Jahvé que morre pela doença do povo,
o cordeiro inocente a ser conduzido para o matadouro, para apagar a culpa
dos doentes.
Todos os homens devido a sua humanidade podem contrair esta
infecção gravíssima. É notável o facto de que algumas doenças exercitam não
só um dano á saúde física, mas também desencadeiam perturbações profundas na
psiche e suscitam medo e imaginação maiores que a sua realidade física, até
ao ponto de fazer dela um símbolo do mal mesmo que ameaça a existência da
humanidade.
Assim acontece que ao nomea-la evoca terror notório e
inconsciente, como no passado a lepra, a peste e outras. É fácil que nesta
condição surjam interpretações simplificadas mágicas ou supersticiosas,
parcialmente teológicas, ou por nada éticas sobre a relação antiga quanto o
próprio mundo, entre culpa e castigo. A humanidade inscreveu profundamente
na consciência o sentido da fragilidade e o sentido de culpa, mas o ligame
que os homens procuram e pronunciam entre culpa e castigo não é sempre
racional nem teológicamente exacto.
A definição que demos de aconselhamento diz assim:
"O Espírito do Senhor está sobre mim
porque me ungiu, para anunciar a Boa Nova aos pobres; Enviou-me a proclamar
a libertação aos cativos e, aos cegos o recobrar da vista a mandar em
liberdade os oprimidos, a proclamar um ano de graça do Senhor" (Lc
4,18-19.21). Cristo é o profeta por excelência que traz o programa de vida
que é dirigido a todas as classes sociais, mas que como libertação torna
possível a vida dos pobres e oprimidos, dos marginalizados e dos cegos, dos
surdos e dos cochos, a ponto de não só se tornarem como outros membros da
sociedade, mas até a ponto de ouvirem a palavra de Deus ( os surdos ), e até
verem as maravilhas de Deus ( os cegos )saltitarem como carneiros ( os
cochos ), e até os mortos pela palavra tornarem a vida. Esta é a vocação á
qual estamos chamados todos os que estamos aqui, como Jesus temos uma missão
profética a que ninguém tem o direito de se excluir. Trata-se da
sobrevivência de um povo é tarefa nobre demais para nos desculparmos
irresponsavelmente.
Caríssimos amigos todo mal exercita a sua potência destrutiva, além dos
campos individuais e delimitados, em mecanismos e estruturas que são criadas
pelo homem, mas que depois se arrogam uma sua autonomia anónima e se
acaparram do homem como sua vítima. Somos nós aqui chamados a ser outros
cristos com os nossos meios técnicos, afectivos, psicológicos emocionais
para que se continue a ouvir na humanidade de hoje e de amanhã... estivi
doente e me visitate curando. Amen.
Padre Ezequiel Faria. 7 de Dezembro 2001.