Igreja de Benguela

SEMINÁRIO MÉDIO DO BOM PASTOR

VINTE  E  CINCO  ANOS  DE  EXISTÊNCIA  (1976-2001)


Padre Gabriel José  Musungu

 

Excia Revma D. Òscar Lino Lopes Fernandes Braga, Venerando Bispo de Benguela!

Exmo Senhor Pe Eduardo Alexandre, Vigário Geral!

Exmo Senhor Dr Dumilde Rangel, Governador Provincial!

Distintos Membros do Governo Provincial!

Exmo Senhor Administrador Municipal!

Exmo Senhor Pe Venâncio Branco, Reitor do Seminário do Bom Pastor!

Exmos Senhores Padres e Diáconos!

Revdas Irmãs!

Irmãos!

Carissimos Benfeitores do Seminário

Convidados!

Santo Povo de Deus!

 

0.- Introdução

 

Coube-me a honra e o privilégio de apresentar a resenha histórica do Seminário Médio do Bom Pastor- Propedêutico, na celebração do seu Jubileu.

Tivéssemos que buscar algum titulo bem poderíamos sugerir: BOM PASTOR E A SUA RESENHA HISTÓRIA. O que aqui vamos apresentar é apenas uma síntese, pois não sairíamos daqui hoje se quiséssemos descer a pormenores, relatando tudo desde à fundação aos nossos dias.

O presente trabalho é filho de muitas mãe; a sua estrutura tem apoio, na colaboração daqueles que se fizeram com a obra quando essa precisou dos seus préstimos. Fundamentamo-lo no testemunho de muitos: alguns membros da direcção, e outros estudantes ou formandos alguns dos quais fundadores do Seminário. Não vamos abarcar os seus três momentos históricos (fundação; confisco e época da dispersão; e o período da devolução).

Por outro lado serviram-nos de apoio os diversos relatórios da Diocese, na parte em que apresentam a síntese das actividades do Seminário, ao longo dos vinte e cinco anos de existência.

O Seminário Médio do Bom Pastor, secção do Propedêutico, completa vinte e cinco anos de existência desde que foi fundado por Sua Excelência Reverendíssima D. Óscar Lino Lopes Fernandes Braga, Bispo de Benguela.

Celebramos este Jubileu graças à coragem e a fé, o entusiasmo de homens e mulheres e, principalmente, o amor à Igreja que tornaram possível o surgimento desta casa, e desta obra que acolheu não só os jovens seminaristas vindos do Quipeio, mas também aqueles que desde as suas comunidades Paróquiais, Missões e Centros Pastorais ou mesmo desde os seus ambientes familiares se sentiram interpelados pelo “Vem e Segue-Me”, convite sempre actual do Senhor da Messe, em vista a preparar os Seus trabalhadores.

Os vinte e cinco anos de existência compreendem uma síntese histórica do Seminário, dos homens e mulheres que a fizeram; e sobretudo uma análise das profundas mudanças da sociedade angolana, mormente a benguelense, e da mesma instituição; são, ao mesmo tempo, um testemunho da tarefa educativa da Igreja no seu projecto de valorização do homem, enquanto imagem e semelhança de Deus e resposta ao mandato do Senhor de ir e ensinar a todas as nações (Mt 28, 19).

 

I.- Fundação

 

Conta-se que a cidade de Benguela, a partir dos primeiros momentos da sua existência como tal quis ser cristã, não obstante os condicionalismos pouco favoráveis à prática dum cristianismo sério e profundo[1]. Com a sua elevação à categoria de Diocese, os seus pastores sempre se preocuparam em formar o clero que podesse servir da melhor forma o Povo de Deus dessa parcela territorial.

Logo que Sua Excia Revma D. Armando Amaral dos Santos, primeiro Bispo desta Diocese, chegou deu-se ao trabalho da formação do clero para o bem espiritual do Povo de Deus. “Com meia dúzia de Padres e Irmãs, que se multiplicavam para responder às solicitações do Prelado, organizou comissões – chegaram a doze!- a fim de dinamizar todos os sectores. Austero, pertinaz, exigente consigo e com os outros, desejava ter um clero autêntico e dava grande atenção à sua vida espiritual”[2].

O seu sucessor, D. Óscar Braga, vivo, dinâmico, criativo, e assaz organizador[3], não deixou de se preocupar com a formação dos seminaristas, em número sempre crescente, e com a dos sacerdotes[4], o que o levou a tomar o propósito de criar Seminários na Cidade Sede de Benguela pois até essa data os seminaristas frequentavam os seminários da Arquidiocese do Huambo, antiga Nova Lisboa.

É neste marco que colocamos o surgimento do Seminário Médio do Bom Pastor, qual necessidade primeira de toda a sua actividade Pastoral. Favoreceu o projecto a já existência de algumas instalações, onde funcionara um Lar das Vicentinas para raparigas”[5].

Erigido canonicamente pela Provisão número 3/76, no dia 9 de Maio de 1976, Festa do Bom Pastor, vindo a ser assim o seu Padroeiro, o Seminário começou a funcionar com um grupo de alunos pertencente aos 3º, 4º e 5º anos, em número de 36. Frequentaram as aulas no Liceu, tendo actividades próprias no período da tarde e fins de semana.

 

II.- Primeira Direcção

 

Uma vez erigido o seminário, D. Óscar Braga confiou a responsabilidade de Direcção ao Reverendíssimo Senhor Padre Ernesto Rafael João, coadjuvado por uma equipa de irmãs da congregação de Santa Doroteia: Ir Maria Luisa Marçal Rosa (falecida); Ir Maria das Dores Leite de Castro, Directora de estudo; Ir Filomena Marques e Ir Margarida Maria Toulson.

Colaborava com a equipa o Revdo Pe Venâncio Branco que vinha da Paróquia de S. José da Caponte-Lobito, no fim de semana para o desporto e direcção espiritual até Fevereiro de 1979 altura em que partiu para Roma.

 

III.- Primeiro grupo: os fundadores

 

Nesse mesmo dia 9, os alunos apresentaram uma récita, no salão do Colégio das Irmãs Doroteias, toda organizada por eles, à qual assistiram, além do Senhor Bispo D. Óscar Braga, as Irmãs, os Professores e as pessoas amigas. Havia sido dado o passo inicial para o funcionamento do Seminário.

 

A.- Curso do Quinto ano (nona classe)

 

Vieram para o quinto ano, sete alunos. E eram desse curso os Senhores: Armindo Francisco Kopingo; Celestino Kapapelo; Fernando Cuzinha; Filomeno Avelino; Jerónimo Fino Xavier[6]; José Alfredo Justino e Victorino Domingos Hossi. Todos da Diocese de Benguela excepto: Jerónimo Fino Xavier. Esta particularidade de inicio demarca o carácter de abertura desse estabelecimento para as Dioceses Irmãs.

 

B.- Curso do Quarto ano (oitava classe)[7]

 

Os alunos do quarto ano eram doze. Constituíam o curso os Senhores: António Cornélio Tchilula; António Canhungo; António Tomé Cangombe; Félix Bravante; Francisco Paulo; Humberto Gonçalves de Freitas; João António[8]; José Luis da Silva[9]; José Tomás Ponda[10]; Mário Lukunde; Victorino Dambuka; Xavier Jaime Manuel[11].

 

C.- Curso do Terceiro ano (sétima classe)[12]

 

O curso do terceiro ano era o mais numeroso de todos. Faziam parte desse curso os Senhores: Adalberto Costa Júnior; Adriano Canganjo; Adriano Sampaio Raimundo; Agostinho Camalata; André Soma; António Catota; António Kameke; Francisco Manuel; Francisco Sita; Frederico Vassassa; Hilário Segunda; João Baptista Manuel; João Evangelista Caetano; Lucas Katimba; Mariano Tchimbomba; Martinho Luciano Longenda; Martinho Terças.

No bom ritmo os alunos do Seminário viveram a sua formação no seu próprio edifício em paz, num ambiente de oração, estudo e trabalho.

 

IV.- Número de alunos até aos actuais Diáconos

 

Até a presente data passaram pelo Seminário do Bom Pastor um considerável número de alunos matriculados. Assim temos:

Em 1976 Seminário inicia com 36 alunos: dois ordenados a sacerdote, dos quais um para a Diocese Pe Mário Lukunde, primeiro fruto, e outro para a Congregação dos Missionários de La Salette, Pe Hilário Segunda;

Em 1977, 28 alunos matriculados dos quais 5 ordenados;

Em 1978, 32 alunos matriculados dos quais, 10 ordenados;

Em 1979, 26 alunos matriculados dos quais, 4 ordenados;

Em 1980, 26 alunos matriculados dos quais 7 ordenados;

Em 1981, 21 alunos matriculados dos quais, 6 ordenados;

Em 1982, 20 alunos matriculados dos quais, 8 ordenados;

Em 1983, 25 alunos matriculados dos quais 10 ordenados;

Em 1984, 33 alunos matriculados dos quais 11 ordenados;

Em 1985, 27 alunos matriculados dos quais 13 ordenados;

Em 1986, 26 alunos matriculados dos quais 12 ordenados;

Em 1987, 14 alunos matriculados dos quais 6 ordenados;

Em 1988, 42 alunos matriculados dos quais 20 ordenados;

Em 1989, 52 alunos matriculados dos quais 16 ordenados;

Em 1990, 68 alunos matriculados dos quais 8 ordenados; o curso mais espectacular!

Em 1991, 72 alunos matriculados dos quais 12 ordenados; outro especial!

Em 1992, 85 alunos matriculados dos quais 8 diáconos. Mais espectacular ainda!

 

NB.: Ao celebrar os 25 anos de existência, o Seminário do Bom Pastor conta com 1.443 alunos matriculados dos quais 153 ordenados, desde a sua fundação 1976 até ao ano lectivo de 2000/2001,

 

V.- Sectores em que trabalham os ex - seminaristas

 

O objectivo do Seminário é orientar o candidato de modo a que descubra aquilo para o qual Deus o chama. É o processo de discernimento levado num percurso conjunto entre o formando e o formador: a formação personalizada.

Alguns alunos depois de feito o caminho acabaram por decidir e outros ajudados a optar por um estilo de vida diferente (ao sacerdotal). Hoje muitos estão enquadrados na sociedade com cargos de relevo. Entre os antigos alunos encontram-se distribuídos, alguns na saúde, muitos na educação e outros tantos no Governo quer provincial, quer nacional.

 

VI.- Vida e actualidade do Seminário: uma síntese

 

Passou por vários momentos dada a realidade histórica a que ficou submetido o Pais. Contou com a colaboração dos Padres Pobres Servos da Divina Providência, e ainda conta com a ajuda das Irmãs Filhas da Caridade de Maria  Imaculada.

Passado o tempo, a Diocese não tardou ver o número de sacerdotes crescer como resposta de Deus a oração do Povo, já que quem reza, de verdade, obtêm aquilo que com fé pede.

A maturidade e o crescimento da mão de obra da Igreja local levou a que o clero secular (próprios filhos) assumisse, com uma ou outra limitação e dificuldade, os destinos da obra que a muitos viu nascer, crescer e acolheu no processo da caminhada vocacional e de discernimento na busca da vontade de Deus sobre si.

Hoje o Seminário do Bom Pastor é dirigido pelo clero secular da Diocese de Benguela, com a colaboração de alguns missionários[13] cujas casas estão sedeadas nesta Diocese, para a administração das aulas.

 

VII.- Número de Padres ordenados

 

Conta-se hoje com 158 sacerdotes que passaram por este Seminário repartidos por algumas Diocese de Angola: Benguela, Lubango, Sumbe, Luanda e diversos Instituto e Congregações religiosas com sede em Angola.

 

VIII.- Padres e seminaristas falecidos

 

Padres: Hilário Segunda, dos Missionários de La Salette; Seminaristas: Francisco Cassessa; Francisco Hossi; Pio Augusto Tchimbindja; Evaristo Destila; Paulo Nicolau Suku; Belchior Nguelepete; Luis Jaime Somakwendje; Eliseu Máquina.

 

IX.- Lugares em que funcionou o Seminário

 

Ao logo dos vinte e cinco anos de existência, o seminário mudou de lugar devido às circunstâncias. Tendo começado pelo actual edifício do Bom Pastor; passou pelo Bispado; pela Rosa Mística; pela Casa Nova; pela Missão da Nazaré e novamente Bom Pastor.

 

X.- Algumas datas históricas

 

1.- A 6 de Junho de 1970, criação da Diocese de Benguela pela Bula “Omnimode Soliciti”, sob o Pontificado de Sua Santidade o Papa Paulo VI;

2.- A 9 de Maio de 1976, fundação do Seminário Médio do Bom Pastor, com a Provisão 3/76, por Sua Excia Revma D. Óscar Braga;

3.- Em Setembro de 1978, confisco do edifício do Seminário pelas autoridades do governo;

4.- Em 1979 Pe Ismael Santiago Cerdá, da Diocese de Espanha assume a direcção e a prefeitura de estudo do Seminário;

5.- Em 31 de Janeiro de 1981 acompanhadas da Irmã Superiora Geral, chegam a Benguela as Irmãs Filhas da Caridade de Maria Imaculada para substituir as Irmãs Doroteias no cuidado do Seminário;

6.- Em Março de 1982 chega a equipa formadora dos Padres da Congregação dos Pobres Servos da Divina Providência: Pe Francisco Sciullo e Irmão Mário Frigo;

7.- Em 14 de Setembro de 1991 devolução e respectiva reabilitação do edifício do Seminário do Bom Pastor, pelas autoridades do governo;

8.- Em 1992 começa o período de transição, na direcção do Seminário: dos Pobres Servos da Divina Providência para o clero secular na pessoa do Revdo Pe André Macala;

 

Actualmente dirigem o Seminário 3 Padres (Venâncio Branco, João Evangelista Tomás e Domingos Kakepa Graciano) e 1 Diácono (Adriano Candeeiro) todos do clero secular. E com eles trabalha uma equipa de Irmãs Filhas da Caridade de Maria Imaculada (cozinha, saúde e rouparia).

 

Conclusão

 

A terminar temos a dizer que somos um número considerável, os que levamos na alma as raízes e a essência dessa obra.

Uns como leigos e outros como sacerdotes constituímos essa grande família de antigos alunos do Bom Pastor. A nossa existência humana, cristã, espiritual, intelectual e sacerdotal, foi erguida, modelada e cuidadosamente cimentada entre os muros dessa casa, e com ajuda de muitas mãos generosas e disponíveis que Deus foi colocando no nosso caminho, para possibilitar o nosso crescimento integral.

Muito contribui este Seminário para o enriquecimento vocacional nos diversos Institutos e congregações religiosas. E centenas de alunos que a casa acolheu mas que seguiram outros caminhos[14], representa o retrato histórico e um documento inquestionável dos vinte e cinco anos de vida, e da formação, que fazem história.

Bodas de prata! Jubileu! Quarto de um século de vida que compreende uma complexidade de factos passados que hoje contemplámos com alegria. O Seminário do Bom Pastor supôs, segundo a intenção do fundador, uma oportunidade para a criação de um ambiente que possibilitou o sentido e o espirito de família para os candidatos ao sacerdócio. Por isso hoje existimos não só como Associação mas e sobretudo como Família dos Antigos Alunos do Bom Pastor de Benguela.

PARABÉNS, D. ÓSCAR FERNANDES BRAGA!

PARABÉNS, IRMÃ MARGARIDA TOULSON!

                PARABÉNS, Pe VENÂNCIO BRANCO!

PARABÉNS, Pe MÁRIO LUKUNDE!

PARABÉNS, ASSOCIAÇÃO DA FAMÍLIA DOS ALUNOS DO BOM PASTOR!

BEM HAJA IGREJA DE BENGUELA!

 

Obrigado!

Benguela, 3 de Dezembro de 2001.

 

Padre Gabriel José  Musungu

 

 

 



[1] .- Cfr DIOCESE DE BENGUELA, 1970 Benguela 1975, 21.

[2] .- Ib., 37.

[3] .- Cfr DIOCESE DE BENGUELA, 1970 Benguela 1995, 38.

[4] .- Cfr op. c., 38.

[5] .- Cfr op. c., 43.

[6] .- Seminarista da Diocese de Novo Redondo.

[7] .- Desse curso foi ordenado sacerdote, Mário Lukunde, pela Diocese de Benguela. Actualmente Reitor do Seminário Maior do Bom Pastor, Secção de Teologia.

[8] .- Seminarista da Diocese de Novo Redondo.

[9] .- Seminarista da Diocese de Novo Redondo.

[10] .- Seminarista da Diocese de Novo Redondo.

[11] .- Seminarista da Diocese de Novo Redondo.

[12] .- Desse curso foi ordenado sacerdote, Hilário segunda (RIP), pelos Missionários de Nossa Senhora de La Salette.

[13] .- Contam-se os missionários da Congregação de Nossa Senhora de La Salette; os da Congregação do Espirito Santo; os Irmãos Servos do Reino e muitos Leigos comprometidos na Igreja e especializados em ciências exactas.

[14] .- Entre os filhos que o Seminário do Bom Pastor ‘criou’ muitos são Sacerdotes, Religiosos, outros com cargos de alto nível: Médicos, Professores, Membros do Governo, Deputados, e outros cargos de responsabilidade respeitáveis na sociedade angolana.


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ultima revisão deste pagina 20 de Dezembro 2001